Conectividade Hidrológica do Contínuo Flúviomarinho: Extremos Climáticos, Oscilações Globais e Implicações no Sistema Costeiro Semifechado

Nome: LETICIA GUERNER

Data de publicação: 25/02/2025
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
GILBERTO FONSECA BARROSO Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ELINE NAYARA DANTAS DA COSTA Examinador Interno
GILBERTO FONSECA BARROSO Presidente
LUCI CAJUEIRO CARNEIRO PEREIRA Examinador Externo
MARCELA CUNHA MONTEIRO BERNARDI Examinador Externo
MONICA MARIA PEREIRA TOGNELLA Examinador Interno

Resumo: Esta tese investiga a conectividade hidrológica do contínuo fluviomarinho da hidrologia da bacia hidrográfica com o Sistema Costeiro Semifechado (SCSF) tendo como estudo de caso o Complexo Estuarino de São Marcos – CESM, no Maranhão. A pesquisa foi dividida em duas etapas principais: (1) análise dos indicadores do contínuo flúviomarinho (CFM) e; (2) identificação dos potenciais perigos hidroclimáticos à qualidade da água do SCSF. Utilizou-se o intervalo de 1984 a 2022, considerando os parâmetros como fisiografia, pluviosidade, fluxos hidrológicos, sistemas socioambientais e parâmetros de oceanografia costeira. Consideraram se três principais bacias tributárias do CESM: rio Pindaré (RP), rio Grajaú (RG) e rio Mearim (RM). A análise dos extremos climáticos indicou redução na intensidade da chuva na região leste do CESM (principalmente composta pelo bioma Cerrado) e aumento na intensidade de extremos e dias secos consecutivos na região oeste (principalmente composta pelo bioma
Amazônico). O rio Pindaré é o principal tributário com descarga anual de 6,81 km³.ano-1, sendo duas vezes maior que as demais sub-bacias. O RM demonstrou maior estabilidade hidrológica durante os anos secos, enquanto o RP e o RG apresentaram maior variabilidade. Os fluxos de alta vazão foram 50% mais frequentes do que os de baixa vazão ao longo dos anos. As análises
da Índice de Precipitação Padronizada (SPI) revelaram que o aumento da sazonalidade e dos anos secos consecutivos estão aumentando a vulnerabilidade dessas bacias. Eventos ENSO, como El Niño e La Niña, causaram até 30% de variação no escoamento anual, particularmente no RP e RG, que também são impactados pelo desmatamento e pelas mudanças no uso do
solo. A fragmentação fluvial, medida pelo índice CARFI, variou entre as sub-bacias, sendo maior na RM (24,24). A análise do uso e cobertura da terra indicou uma redução da cobertura natural de ~30% na bacia hidrográfica e ~27% no entorno de rios e corpos d’água. Alterações na hidrologia fluvial, especialmente em anos de baixa vazão, afetaram a salinidade e o oxigênio dissolvido (DO) no CESM, com RM influenciando as maiores variações. Níveis elevados de fosfato foram observados em anos de baixa vazão comparado aos anos de vazão regular. O regime de macromaré e a morfometria do SMEC indicam uma capacidade de descarga limitada, tornando-o sensível à retenção de poluentes e à eutrofização. Além disso, o sistema enfrenta pressões cumulativas das atividades portuárias, mineração de bauxita e descargas ricas em nutrientes da expansão urbana da ilha de São Luís. Condições de baixo fluxo podem concentrar poluentes, enquanto eventos de alto fluxo os transportam para a corrente inferior, exacerbando riscos ambientais. Os fenômenos climáticos com correlações mais fortes com parâmetros da precipitação local foram o Atlantic Multidecadal Oscillation (AMO), Atlantic Meridional Mode (AMM), Multivariate ENSO Index (MEI) e o North Atlantic Oscillation (NAO), especialmente com a componente tendência dos índices de extremos climáticos. Essas correlações foram espacialmente heterogêneas, diferenciando regiões oeste-leste e áreas de diferentes altimetrias. Entre 1993 e 2022, foram registrados 269
desastres hidroclimáticos na bacia hidrográfica do CESM, com maior incidência nas bacias RG e RM, associadas a eventos extremos de pluviosidade. A evolução da governança do CFM focou progressivamente na gestão de recursos naturais, defesa civil e resiliência a desastres naturais, refletindo uma resposta aos desastres hidroclimáticos. O aumento de condições secas na bacia hidrográfica do CESM resulta em aumento da intrusão salina, avanço do manguezal para as zonas estuarinas superiores e ao incremento de fosfato. Estes resultados destacam a necessidade de estratégias de governança adaptativa que integram a variabilidade hidrológica e as pressões humanas para aumentar a resiliência ecológica e promover uma gestão sustentável. Ao preservar a conectividade hidrológica e implementar práticas de gestão integrada, esta pesquisa fornece um quadro que pode ser aplicado a sistemas similares em todo o mundo, ajudando a mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger as
atividades socioeconômicas costeiras.

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