REGISTROS ESTRATIGRÁFICOS E MORFOLÓGICOS DA VARIABILIDADE EUSTÁTICA E PALEOAMBIENTAL PÓS-ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL NA PLATAFORMA CONTINENTAL LESTE-SUDESTE DO BRASIL
Nome: PAULO HENRIQUE CETTO
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 04/07/2022
Orientador:
Nome | Papel |
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ALEX CARDOSO BASTOS | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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ALEX CARDOSO BASTOS | Orientador |
ANA LUIZA SPADANO ALBUQUERQUE | Examinador Externo |
CLEVERSON GUIZAN SILVA | Examinador Externo |
HELENICE APARECIDA BASTOS ROCHA | Examinador Externo |
LUIGI JOVANE | Examinador Externo |
Resumo: Uma série de evidências morfológicas e estratigráficas ao redor do mundo vêm demonstrando o caráter variável das taxas de subida do nível do mar durante a última transgressão marinha pós-UMG, sendo constatados períodos de maior aceleração Melt Water Pulses geralmente precedidos por stillstands, em compasso com o recuo e avanço das calotas polares e fenômenos de rearranjo oceano-atmosfera no Hemisfério Norte (HN). Margens passivas e distantes dos pontos focais de derretimento de geleiras (far- field), tais como as situadas no Atlântico Sul, são ideais para registrar o processo de subida do nível do mar durante a última deglaciação em função de componentes mínimas de isostasia; contudo, os estudos a esse respeito ainda são bastante escassos nessa região. Visando explorar essa lacuna, o presente trabalho investiga a influência dos fenômenos eustáticos/paleoclimáticos pós-UMG desencadeados no HN no condicionamento geomorfológico e paleoambiental da margem continental leste-sudeste brasileira. Em um primeiro momento, a influência dos processos de variação do nível do mar é inferida comparando-se as profundidades das morfologias de fundo e/ou subfundo de 3 diferentes setores da plataforma (Depressão de Abrolhos DA, Plataforma Externa Centro-Nordeste do ES PECNES e Recife Califórnia - RC) com as curvas eustáticas disponíveis na literatura. Os resultados sugerem que a desaceleração de subida do nível do mar durante o Younger Dryas favoreceu o desenvolvimento de sistemas costeiros do tipo ilha barreira-laguna nas proximidades de desembocaduras fluviais, como observado na DA e na PECNES. Em locais dissociados dessa influência terrígena, dominariam processos erosivos com a formação de terraços de abrasão e falésias, como nos flancos dos proeminentes bancos marginais da DA. Regiões de baixo gradiente, que se comportariam como ambientes marinhos rasos abertos durante o YD, potencialmente favoreceriam o desenvolvimento de recifes de franja, tal como no setor nordeste da PECNES. Todas essas feições estabelecidas até o final do YD teriam sido abruptamente afogadas em função do MWP-1B. Em direção à atual plataforma interna, o sucessivo estabelecimento/afogamento de formações recifais foi provavelmente influenciado pelos eventos de resfriamento de 8200 anos A.P. e MWP-1C, respectivamente, tal como inferido no setor RC. Em um segundo momento, a pesquisa se volta para a investigação da evolução paleoambiental transgressiva do principal setor investigado, a DA, através de abordagens sismoestratigráfica, sedimentológica, geocronológica e geoquímica. Revela-se que o preenchimento sedimentar areno-quartzoso de afogamento dos paleocanais na DA remontam ao período Bølling-Allerød, tendo sido depositados provavelmente em contexto climático mais seco. Os dados cronológicos corroboram que o subsequente estabelecimento de uma laguna, com feições distais emersas e/ou de shoreface, típicas de um delta intralagunar, de fato ocorreu durante o YD. Os proxies geoquímicos de avaliação do intemperismo continental e do balanço entre aportes terrígenos x marinhos, aplicados na sequência lamosa terrígena da paleolaguna (teores de CaCO3<20%), sugerem que a mesma evoluiu no decorrer do YD sob abundante aporte terrígeno, rico em MO oriunda principalmente de plantas C3, provavelmente em um contexto climático mais úmido. Concomitantemente seria observada uma lenta, mas crescente componente secundária de influência marinha que atribuiria uma característica estuarina ao sistema costeiro ao longo do YD. A datação de uma superfície estratigráfica de ravinamento no limite superior do depósito terrígeno lagunar corrobora que o afogamento do sistema costeiro como um todo se deu em função do início do MWP-1B, imediatamente após o final do YD. Nos testemunhos, o âmbito desse evento é identificado pela brusca inflexão do teor de CaCO3 entre ~20-80% ao longo da faciologia mista, havendo abrupta substituição dos aportes terrígenos contendo plantas C3 por um gradiente de aumento substancial dos aportes de MO e sedimentação autóctone de origens marinhas, provavelmente em um contexto climático relativamente mais seco no Holoceno Inferior. Esse intervalo abrangeria desde o episódio de brusco afogamento do sistema lagunar ao processo de transformação da DA em um embaiamento no decorrer do MWP-1B, através da ampliação da comunicação marinha pelos canais Besnard. Nessa retomada do processo transgressivo seriam implantadas novas feições clásticas sobre a superfície de ravinamento resultantes do incremento hidrodinâmico, inclusive sobre as antigas feições distais formadas no YD, sendo cogitado também o estabelecimento de feições de natureza recifal, que sofreriam backstepping em função do MWP-1B nos flancos marginais oeste da DA. A conformação reentrante dessa feição teria sido abandonada quando o nível do mar atingiu a cota de ~40 m nos bancos marginais, passando pouco tempo após o MWP-1B a ser submetida a um regime de plataforma aberta que perdura até os dias atuais, com deposição sedimentar essencialmente carbonática biogênica (CaCO3>80%) e aportes de MO baseados na produtividade primária marinha.